Aproveitando o mês de inauguração desse site quero lançar a sessão 'Aquarela botânica do mês', destacando um trabalho de minha autoria como referência para abordagens de aspectos relativos a técnica e composição em ilustração botânica.
Há dois meses atrás, quando Renato Ximenes (www.thenativeorchid.com) estava desenvolvendo o site, trabalho que foi escolhido para o cabeçalho do site foi o da Sophronitis coccínea por ter para mim um valor histórico em minha jornada, foi o primeiro trabalho feito logo após o meu retorno ao Brasil, voltando do período de especialização feito em Kew Gardens (UK). Meu amigo e pesquisador Paulo Labiak me presenteou com essa planta falando sobre a importância da espécie, e também pela dificuldade de cultivo fora do seu habitat natural. Procurei pinta-la o mais rápido possível e fixei o conjunto das mudinhas da colônia no tronco de uma laranjeira aqui no meu quintal e todos os anos, no final do inverno ou início da primavera, ela me presenteia com uma floração belíssima, me fazendo lembrar da alegria que eu senti ao pinta-la naquela ocasião.
Coincidentemente, enquanto terminávamos o site e colocávamos no ar a colônia desabrochou em flores ... e, claro, foi o trabalho que me ocorreu de apresenta-lo nesta sessão em primeiríssima mão:
A espécie retratada é a Sophronitis coccinea (Lindl.) Richb. f., variedade riograndensis, uma pequena orquídea típica das florestas de altitude das regiões Sul e Sudeste do país (PR, SC e RS), em elevações de 650-1670 metros.
Lindley, em 1828, definiu esse gênero atribuindo-lhe o nome com base na sua etmologia, que vem do grego (Sophron - casto, modesto, pequeno e Coccinea - da cor vermelho escarlate).
É uma orquídea genuinamente brasileira, também conhecida por Orquídea Vermelha, seu pigmento é bastante raro na família das orquídeas, embora possa haver variedades de cores para o rosa e excepcionalmente branca (var. alba).
Essa orquídea se adapta em clima frio e alta umidade relativa do ar e gosta de bastante luminosidade, evitando-se, contudo, o sol direto. Talvez por essa razão tenha se adaptado tão bem no meu quintal, na região metropolitana de Curitiba onde resido, primeiro planalto paranaense.
O Trabalho:
Este trabalho foi feito segundo a técnica tradicional de aquarela botânica, descrito no livro de minha autoria, onde sucessivas camadas transparentes de aquarela foram aplicadas até se conseguir a tonalidade necessária segundo o modelo que eu estava observando.
Para as flores foram usados os pimentos: Cadmium yellow (para a camada inicial) Cadmium red (como cor local, aplicado na maioria das camadas) e uma mistura de Cadmium red e Viridian para as áreas de sombra das pétalas.
Para as folhas a cor obtida pela mistura de Cadmium yellow e Indigo blue como cor local, e para a áreas de sobra com o acréscimo de pequena porção (traços) de Cadmium red.
No tronco foi usado basicamente o Raw umber, com toques de Indigo blue nas áreas sombrias para resolver o volume.
O que de importante que eu quero ressaltar hoje é que sempre que eu preciso escurecer (ou rebaixar o tom) de uma determinada cor para a aplicação das áreas sombrias da pintura eu utilizo as cores complementares das cores locais (ou cores básicas) do meu modelo, no caso o vermelho escarlate e o verde das folhas. Muitas vezes eu utilizo as próprias cores locais para se complementarem nas regiões de sombra. Mas vejam que nas flores eu preferi utilizar um verde frio (o Viridian) evitando a mistura do verde (quente) das folhas, para que o resultado não pendesse para uma tonalidade marrom, pelo excesso de amarelos que ambas as cores possuíam. Dessa forma, o verde viridian resolveu plenamente o objetivo.
Na época, minha paleta era muito centrada nos pigmentos de cádmio que, muitas vezes, são pimentos opacos. Na atualidade eu já utilizo mais amarelos e vermelhos transparentes, mais isso é um assunto para outra ocasião...
Espero que tenham gostado !